Museu de Curiosidades #4 – Peter Lund

Quem foi Peter Wilhelm Lund ?

Placa com o perfil do cientista Peter Lund no Museu Nacional

Placa com o perfil do cientista Peter Lund no Museu Nacional. Com os dizeres:
“Nascido em Copenhague no ano de 1801 – Morto no Brasil em 1880 – O explorador da fauna primitiva Brasileira. Monumento colocado pelo Instituto Carlsberg” **

Você sabe onde fica essa placa no Museu Nacional? Sabe quem é esse homem? É o cientista dinamarquês Peter Wilhelm Lund (1801-1880), considerado o pai da paleontologia brasileira, ramo da ciência que estuda as formas de vida existentes em períodos geológicos passados, a partir dos seus fósseis.  O pesquisador descobriu mais de 12 mil peças fósseis em cavernas da região de Lagoa Santa (MG), que permitiram escrever a história do período pleistocênico brasileiro, o mais recente na escala geológica.

Peter Lund esteve no Rio de Janeiro primeiramente entre os anos de 1825 e 1828. Nesse período, Lund, que tinha formação em medicina e zoologia, usando recursos próprios, mas também contando financiamento para coleta de animais e plantas para o Museu Real de História Natural de Copenhague, e tendo instruções para tomar observações meteorológicas para a Academia de Ciências, colecionou plantas, coletou e excursionou sem sair dos arredores do Rio. (LOPES, 2008, p.622) Cinco anos depois, retornou ao Brasil, agora se estabelecendo no país permanentemente. De acordo com Lopes (2008), interessado especialmente em estudos de botânica, em seu retorno ao país Lund deu continuidade aos mesmos e seguiu coletando para o museu de Copenhague, e acompanhando o botânico Lüdwing Riedel (1790-1861) em suas viagens pelo interior do Brasil. O responsável pelo retorno de Lund à zoologia e pelo seu interesse pelos ossos das cavernas da região de Minas Gerais teria sido o comerciante de ossos Peter Claussen, a quem Lund conhecera em um encontro casual no ano de 1835, encontro este relatado por toda a literatura a seu respeito (LOPES, 2008, p.623).

Segundo Marchesotti (2011), Peter Lund teria escolhido o Brasil, devido às enormes possibilidades que o país apresentava para os estudos  no campo da história natural. A partir de 1808, com a suspensão das medidas restritivas que impediam a entrada de estrangeiros no Brasil, que tinham como objetivo proteger das outras nações os conhecimentos acerca das riquezas brasileiras, ocorrera uma verdadeira febre de expedições científicas ao país. Lund foi um dos naturalistas estrangeiros que se dirigiram ao Brasil interessados pelas pesquisas de sua natureza. Dentre as diversas espécies descobertas por Lund encontram-se alguns espécimes que estão representados na exposição do Museu Nacional como o tigre-dente-de-sabre e a preguiça gigante.

Esqueletos de duas Preguiças Gigantes  e de um Dentes-de-Sabre  (ao fundo). que se encontram na exposição do Museu Nacional.

Esqueletos de duas Preguiças Gigantes e de um Tigre dentes-de-Sabre. Peças que se encontram na exposição do Museu Nacional.

Das suas escavações ao longo dos anos, puderam ser identificadas diversas espécies de animais. Em 1843, Lund descobriu ossos humanos de cerca de 30 indivíduos, misturados a fósseis de animais. Do ponto de vista antropomórfico (referente à forma humana), os fósseis descobertos eram bastante distantes dos indígenas americanos e próximos dos negróides. Suas características físicas eram homogêneas, o que indica seu isolamento genético (aqueles indivíduos não teriam se misturado com outros grupos). Essa identidade configurou o perfil daquele que ficou conhecido como o Homem de Lagoa Santa. As ossadas mais antigas foram datadas entre 11 mil e 8.000 anos.

Ao longo dos anos de 1836 a 1846 Lund trabalhou na exploração das cavernas, na coleta e classificação dos ossos, bem como também na redação de suas memórias, ficando o desenho de suas pranchas a cargo do norueguês Brandt, seu colaborador de toda a vida. (LOPES, p.623-624).

Desenho de Brandt retratando peter Lund analisando as pinturas rupestres do rochedo dos índios, na Lapa da Cerca Grande em Matozinhos (MG). Acervo do Museu Botânico de Copenhage. (MARCHESOTTI, 2011,p.155)

Desenho de Brandt retratando Peter Lund analisando as pinturas rupestres do Rochedo dos Índios, na Lapa da Cerca Grande em Matozinhos (MG). Acervo do Museu Botânico de Copenhage. (MARCHESOTTI, 2011,p.155)

Suas coleções são resultado da exploração de mais de 250 cavernas de Minas Gerais (LOPES, 2008, p.619). Segundo Margaret Lopes (2008), Peter Lund foi figura de alcance internacional, se destacando no processo de busca de fósseis, especialmente no que se refere à busca pelas grandes “espécies”. O mesmo, segundo a autora, se envolveu ou foi envolvido na discussão de diversos temas controversos que marcaram a paleontologia da primeira metade do século XIX. Para Lopes (2008), a origem e a antiguidade da raça de Lagoa Santa esteve, certamente, entre as questões posteriormente consideradas mais polêmicas e comentadas da obra de Peter Lund. Suas obras foram de fato impactantes e tiveram repercussão bastante significativa no mundo da paleontologia européia, tendo Charles Darwin destacado as excelentes coleções reunidas no Brasil por Lund entre as  contribuições para suas formulações científicas.

Escrito por:

Andréa Fernandes Costa – Técnica em Assuntos Educacionais da Seção de Assistência ao Ensino – SAE/Museu Nacional (UFRJ).

Henrique Dias Sobral Silva  – Graduando em História (UFRJ), Bolsista PIBEX; Seção de Assistência ao Ensino – SAE/Museu Nacional (UFRJ).

** Gentilmente traduzido do latim para o português pelo historiador Bruno Martins Boto Leite.

Referências:

LOPES, Maria Margaret. ‘Cenas de tempos profundos’: ossos, viagens, memórias nas culturas da natureza no Brasil. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.15, n.3, p.615-634, jul.-set. 2008.

MARCHESOTTI, Ana Paula Almeida.  Peter Wilhelm Lund- O naturalista que revelou ao mundo a pré-história brasileira. Rio de Janeiro: E-papers, 2011.

Raquel Aguiar (Revista Ciência Hoje, agosto de 2002, Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, SBPC), Grupo Bambuí de Pesquisas Espeleológicas, Tempo Passado “Mamíferos do Pleistoceno em Minas Gerais” (Cástor Cartelle, 1994, Editora Palco) e Prefeitura de Pedro Leopoldo.

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